Ao ler o comentário em um fórum de debates sobre design no
Facebook que as Leis de Gestalt não possuem aplicação prática na criação e por
conseqüência fabricação de móveis me senti motivado a desenvolver uma peça de
mobiliário e lançá-lo dentro de um ambiente no intuito de ilustrar minha
discordância.
Como ponto de partida peguei uma textura de minha autoria
que naturalmente gera um pré-conceito sintetizado pelo vocabulário: colorido,
extravagante, vibrante, infantil, etc.
Nesta textura/imagem podemos identificar a Lei da Pregnância, ou seja, nosso
cérebro tende a interpretar a imagem da forma mais simples possível, neste caso
resumimos como uma figura formada por quadrados coloridos sobrepostos.
Numa análise mais profunda podemos perceber um quadrado
maior dividido em quatro partes que se repetem na forma e dimensão alterando-se
apenas as cores, mas uma parte se funde a outra completando-se e criando assim
uma junção quase imperceptível.
Analisando cada parte separadamente percebemos vários
quadrados e retângulos sobrepostos de cores e dimensões variadas desalinhados
em seu posicionamento, mas alinhados em seu eixo rotacional. As cores são
delimitadas por um contorno preto que produz um realce. Pode-se dizer que se
trata de uma abstração com formas geométricas.
Sobre esta figura também podemos concluir que ao aplicá-la
em um objeto maior teremos uma repetição que vai se fundir e se completar da
mesma forma que as partes menores da figura.
(Obs.: Depois que o debate foi se desenvolvendo descobri que
esta textura que criei foi uma releitura inconsciente da obra de Mondrian.
Constatação esta que criou grande surpresa nos demais participantes do fórum em
questão por motivos obscuros que não convém comentar aqui. rsrsrs).
Nesta composição podemos perceber, por causa da Lei da Semelhança, uma falsa simetria
entre o lado esquerdo e direito da imagem, pois mesmo com o detalhe do
desalinhamento da cadeira da direita e da variação na ilustração dos quadros,
eis que nosso cérebro desconsidera tais detalhes se apegando ao fato das
cadeiras serem iguais, dos quadros possuírem a mesma dimensão e posicionamento
equidistante em ralação ao canto da parede além de alinhados na altura e com mesma
moldura. A mesa também esta equidistante em relação às paredes. E muito menos a
assimetria dos galhos e das figuras que compõem a textura colorida são
consideradas a ponto de desequilibrar a harmonia simétrica da imagem.
Outra questão que chama a atenção é o fato da textura extremamente
colorida ter se apagado. A austeridade promovida pelo carpete de madeira
castanho, paredes brancas, cor branca também predominante na mesa e cadeiras,
quadro do Picasso à esquerda e uma montagem da Opere di Armodio à direita além
do vaso decorativo com galhos secos centralizado sobre a mesa predominou. Isso
só é possível pelo fato do nosso cérebro enxergar o ambiente como um todo,
seguindo a Lei Pregnância, ou seja, ele percebe a textura como sendo uma
só coisa, como se fosse apenas uma cor. Obviamente que se eu tivesse aplicado
uma cor diferente para cada parte da mesa e das cadeiras o resultado seria o
oposto.
O “clean” nem um pouco minimalista se manteve e o ambiente
ganhou um ar de exotismo devido à textura colorida.
Agora analisando a mesa e as cadeiras mais de perto podemos
observar o EFEITO e a COMUNICAÇÃO entre forma e textura que os vazados
proporcionaram.
EFEITO: quanto mais frontal ou inclinado é o ponto de vista
em relação à textura, maior é o efeito de desconsiderar o vazado e
interpretá-lo como mais um simples quadrado do grupo. Temos consciência que o
vazado existe e está ali, principalmente quando observamos as costas da cadeira
e as sombras projetadas, mas completamos e interpretamos a textura como um
todo, “sem falhas”.
COMUNICAÇÃO: podemos observar que a textura rege a dimensão
e posicionamento dos vazados. Isso comprova que para criar esta peça fui
obrigado a pensar de trás para frente, ou seja, seria impossível criar os
vazados antes de aplicar a textura. Tudo foi criado a partir da textura.
Podemos aplicar estas leis para criar móveis e ambientes
agradáveis e harmônicos, mas seguir o caminho oposto criando um DESEQUILÍBRIO
PROPOSITAL também é válido além de ser uma enorme fonte de criatividade.
Neste exemplo de DESEQUILÍBRIO PROPOSITAL podemos perceber
que as formas e funções foram trocadas, pois a cadeira passou a ser mesa e a
mesa passou a ser banco substituindo a função da cadeira. E o quadro ao lado de
dimensões desproporcionais e “jogado” de forma despojada sobre o piso não
poderia ser mais condizente com o tema, pois ao analisarmos as figuras que
compõem o quadro podemos perceber que o objetivo do autor foi causar um
sentimento de estranhamento e questionamento na mente do observador. Essa bota
que parece uma meia fixada ao chão, os livros em pé junto com um deles caindo
passando a idéia de movimento, os ovos caindo da mesa e um com um corte
impossível, um bule que parece uma gaiola com um ovo dentro, etc...
Quem consegue quebrar as regras e criar trabalhos que brincam
com os sentimentos e percepções negativas dos observadores/usuários possui um
nível de criatividade mais avançado que conduz e possibilita as pessoas a vivenciar
experiências imprevisíveis, únicas. Quem possui esta capacidade de beirar ao
exagero, ao extravagante, ao intrigante podemos considerar como um verdadeiro artista.
Com certeza não vou mudar a opinião de ninguém, mas tenho
convicção que meus argumentos e ilustrações possuem força a ponto de motivar
uma réplica à altura ou um silêncio absoluto dos assim derrotados. kekekekeke
Editado em 22 de Setembro de 2013.
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