terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Aplicando as Leis de Gestalt na Criação de Móveis

Ao ler o comentário em um fórum de debates sobre design no Facebook que as Leis de Gestalt não possuem aplicação prática na criação e por conseqüência fabricação de móveis me senti motivado a desenvolver uma peça de mobiliário e lançá-lo dentro de um ambiente no intuito de ilustrar minha discordância.


Como ponto de partida peguei uma textura de minha autoria que naturalmente gera um pré-conceito sintetizado pelo vocabulário: colorido, extravagante, vibrante, infantil, etc.


Nesta textura/imagem podemos identificar a Lei da Pregnância, ou seja, nosso cérebro tende a interpretar a imagem da forma mais simples possível, neste caso resumimos como uma figura formada por quadrados coloridos sobrepostos.

Numa análise mais profunda podemos perceber um quadrado maior dividido em quatro partes que se repetem na forma e dimensão alterando-se apenas as cores, mas uma parte se funde a outra completando-se e criando assim uma junção quase imperceptível.
Analisando cada parte separadamente percebemos vários quadrados e retângulos sobrepostos de cores e dimensões variadas desalinhados em seu posicionamento, mas alinhados em seu eixo rotacional. As cores são delimitadas por um contorno preto que produz um realce. Pode-se dizer que se trata de uma abstração com formas geométricas.
Sobre esta figura também podemos concluir que ao aplicá-la em um objeto maior teremos uma repetição que vai se fundir e se completar da mesma forma que as partes menores da figura.

(Obs.: Depois que o debate foi se desenvolvendo descobri que esta textura que criei foi uma releitura inconsciente da obra de Mondrian. Constatação esta que criou grande surpresa nos demais participantes do fórum em questão por motivos obscuros que não convém comentar aqui. rsrsrs).

 Obviamente que a primeira impressão não nos permite acreditar que é possível aplicar esta textura em um ambiente austero (sério) sem alterá-lo mantendo a harmonia. Outro desafio que me motiva tentar provar o contrário. Para isso vou aplicar a Lei da Semelhança e da Pregnância.


Nesta composição podemos perceber, por causa da Lei da Semelhança, uma falsa simetria entre o lado esquerdo e direito da imagem, pois mesmo com o detalhe do desalinhamento da cadeira da direita e da variação na ilustração dos quadros, eis que nosso cérebro desconsidera tais detalhes se apegando ao fato das cadeiras serem iguais, dos quadros possuírem a mesma dimensão e posicionamento equidistante em ralação ao canto da parede além de alinhados na altura e com mesma moldura. A mesa também esta equidistante em relação às paredes. E muito menos a assimetria dos galhos e das figuras que compõem a textura colorida são consideradas a ponto de desequilibrar a harmonia simétrica da imagem.

Outra questão que chama a atenção é o fato da textura extremamente colorida ter se apagado. A austeridade promovida pelo carpete de madeira castanho, paredes brancas, cor branca também predominante na mesa e cadeiras, quadro do Picasso à esquerda e uma montagem da Opere di Armodio à direita além do vaso decorativo com galhos secos centralizado sobre a mesa predominou. Isso só é possível pelo fato do nosso cérebro enxergar o ambiente como um todo, seguindo a Lei Pregnância, ou seja, ele percebe a textura como sendo uma só coisa, como se fosse apenas uma cor. Obviamente que se eu tivesse aplicado uma cor diferente para cada parte da mesa e das cadeiras o resultado seria o oposto.
O “clean” nem um pouco minimalista se manteve e o ambiente ganhou um ar de exotismo devido à textura colorida.

Agora analisando a mesa e as cadeiras mais de perto podemos observar o EFEITO e a COMUNICAÇÃO entre forma e textura que os vazados proporcionaram.     


EFEITO: quanto mais frontal ou inclinado é o ponto de vista em relação à textura, maior é o efeito de desconsiderar o vazado e interpretá-lo como mais um simples quadrado do grupo. Temos consciência que o vazado existe e está ali, principalmente quando observamos as costas da cadeira e as sombras projetadas, mas completamos e interpretamos a textura como um todo, “sem falhas”.

COMUNICAÇÃO: podemos observar que a textura rege a dimensão e posicionamento dos vazados. Isso comprova que para criar esta peça fui obrigado a pensar de trás para frente, ou seja, seria impossível criar os vazados antes de aplicar a textura. Tudo foi criado a partir da textura.

Podemos aplicar estas leis para criar móveis e ambientes agradáveis e harmônicos, mas seguir o caminho oposto criando um DESEQUILÍBRIO PROPOSITAL também é válido além de ser uma enorme fonte de criatividade.



 Neste exemplo de DESEQUILÍBRIO PROPOSITAL podemos perceber que as formas e funções foram trocadas, pois a cadeira passou a ser mesa e a mesa passou a ser banco substituindo a função da cadeira. E o quadro ao lado de dimensões desproporcionais e “jogado” de forma despojada sobre o piso não poderia ser mais condizente com o tema, pois ao analisarmos as figuras que compõem o quadro podemos perceber que o objetivo do autor foi causar um sentimento de estranhamento e questionamento na mente do observador. Essa bota que parece uma meia fixada ao chão, os livros em pé junto com um deles caindo passando a idéia de movimento, os ovos caindo da mesa e um com um corte impossível, um bule que parece uma gaiola com um ovo dentro, etc...

Quem consegue quebrar as regras e criar trabalhos que brincam com os sentimentos e percepções negativas dos observadores/usuários possui um nível de criatividade mais avançado que conduz e possibilita as pessoas a vivenciar experiências imprevisíveis, únicas. Quem possui esta capacidade de beirar ao exagero, ao extravagante, ao intrigante  podemos considerar como um verdadeiro artista.

Com certeza não vou mudar a opinião de ninguém, mas tenho convicção que meus argumentos e ilustrações possuem força a ponto de motivar uma réplica à altura ou um silêncio absoluto dos assim derrotados. kekekekeke

 Santo André, 03 de Janeiro de 2013.

Editado em 22 de Setembro de 2013.


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