domingo, 18 de junho de 2017

Do artesanal ao industrial, por Cezar Augusto

DO ARTESANAL AO INDUSTRIAL: DOIS MOMENTOS DA
CARPINTARIA NO BRASIL

FIGUEREDO, Cezar Augusto S. (1); CARRASCO, Edgar Vladimiro Mantilla (2)
1. Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo
Rua Paraíba, 697 - Funcionários - Belo Horizonte - Minas Gerais – Brasil
136.arq@gmail.com
2. Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo
Rua Paraíba, 697 - Funcionários - Belo Horizonte - Minas Gerais – Brasil
mantilla@dees.ufmg.br


RESUMO

A construção civil é um processo continuo de avanços tecnológicos e esses avanços impactaram
diretamente na prática da carpintaria. A introdução de novos materiais, novos tipos de madeira, novos tipos de ligação, a normalização técnica e os detalhamentos alteraram substancialmente o perfil do
mestre-carpinteiro e as técnicas de carpintaria utilizadas. Neste artigo abordaremos especificamente
o ofício da carpintaria tradicional, sua preservação, transmissão e sua práxis dentro do contexto atual de normalização técnica das estruturas de madeira e as práticas demandadas pela norma para execução de estruturas de madeira. O objetivo é pontuar as alterações tecnológicas na construção civil que impactaram na prática da carpintaria tradicional. Uma das alterações fundamentais foi a mudança do perfil do carpinteiro construtor para o de carpinteiro montador, alterando assim toda a lógica construtiva e de pensamento da carpintaria tradicional, que sob essa nova ótica perdeu suas
características principais de autonomia e de engenhosidade. A introdução da norma técnica de
estruturas de madeira e sua posterior revisão criaram critérios para o desenvolvimento o
desenvolvimento de projetos e promoveram sua industrialização e seriação.

Palavras-chave: Carpintaria; Técnicas Construtivas Tradicionais; História da carpintaria.

INTRODUÇÃO

A construção civil é um processo continuo de avanços tecnológicos e esses avanços impactaram
diretamente na práxis da carpintaria. A introdução de novos materiais, novos tipos de madeira, novos tipos de ligação, a normalização técnica e os detalhamentos alteraram substancialmente o perfil do
mestre-carpinteiro e as técnicas de carpintaria utilizadas.
Segundo VARGAS (1994), a indústria da Construção Civil no Brasil passou por pelo menos três
estágios sucessivos: o primeiro estágio é puramente técnico, com ausência de qualquer ciência
aplicada, limitando-se à adaptação de técnicas externas às condições locais. O Brasil passa por esse
estágio desde a sua descoberta até o início do século XIX, incorporando a técnica medieval e renascentista. O segundo estágio refere-se à aplicação de teorias e métodos científicos aos
problemas da técnica anteriormente estabelecida, o que ocorreu no Brasil a partir da criação das escolas militares e de engenharia, quando chegou ao Brasil a corte portuguesa. O terceiro estágio tem início quando aparecem, no começo do século XX, em São Paulo e no Rio de Janeiro, os institutos de pesquisas tecnológicas.
Neste artigo abordaremos especificamente o ofício da carpintaria tradicional, sua preservação, transmissão e sua práxis dentro do contexto atual de normalização técnica das estruturas de madeira
e as práticas demandadas pela norma para execução de estruturas de madeira. O objetivo é pontuar as alterações tecnológicas na construção civil que impactaram na prática da carpintaria tradicional.
Para isso, em lugar de fazermos uma analise histórica e linear da carpintaria, apontaremos sua
mudança a partir do seu processo produtivo, de artesanal para industrial, pautada pela criação da norma NB-11/1951 – Projeto e Dimensionamento de Estruturas de Madeira. Dessa forma os autores
GONZAGA (2006), FÍGOLE e GADELHA (2012), MARCHAND (2006), CARTER e CROMLEY (2005),
nos ajudam a entender e pontuar as questões relativas ao processo artesanal da carpintaria. Já os
autores ALBUQUERQUE (2007), LOGSDON (1997), MIOTTO (2006), MARQUES (2010) e KAPP
(2004) nos fornecem subsídios para analisar a produção industrial da carpintaria, baseadas na inserção da norma e suas novas demandas de produção.

A CARPINTARIA TRADICIONAL

A carpintaria tradicional é uma técnica que foi amplamente difundida e utilizada desde o Brasil colônia, originando um sem-número de edificações construídas a partir desse sistema construtivo. As qualidades intrínsecas da técnica saltam aos olhos ao observarmos que as estruturas produzidas mantém sua qualidade e desempenho mesmo séculos depois de terem sido construídas.
A permanência, aprendizagem, transmissão e aplicação das técnicas tradicionais de construção é um fator assegurador da conservação do patrimônio cultural construído. O domínio dos materiais e sistemas construtivos antigos garante subsídios para o restauro, manutenção de edificações antigas e permite difundir as práticas construtivas vernáculas, salvaguardando mais que simplesmente o objeto íntegro construído, mas a práxis, o arte-fazer, que envolve a produção desse objeto.
Essas técnicas tradicionais, seus processos criativos e sua práxis características recentemente tem
chamado a atenção dos órgãos e institutos de patrimônio, dando origem a diversas ações no intuito
do reconhecimento, catalogação e da preservação desse patrimônio, denominado intangível ou
imaterial. Diversas ações no sentido de ensino, preservação e transmissão dessas técnicas
tradicionais vem sendo desenvolvidas.

O Brasil possui, hoje, dezenove sítios históricos considerados Patrimônio Histórico e Cultural da
Humanidade, entre os mais de seiscentos eleitos pela UNESCO em todo o mundo. Dentre as áreas
podemos ressaltar os seguintes sítios: Centro Histórico de Goiás (GO), Diamantina (MG), Olinda
(PE), Ouro Preto (MG), Centros Históricos de São Luís (MA) e de Salvador (BA), que possuem
edificações construídas utilizando estruturas de madeira, principalmente em suas coberturas. No Brasil as coberturas em estruturas de madeira foram inseridas no período colonial, com a chegada dos primeiros exploradores. As construções nesta época utilizavam os materiais existentes na região. Parte relevante do conjunto de edificações de valor cultural que se preserva no Brasil é constituído
por construções que fazem uso de estruturas de madeira, sobretudo em suas coberturas, ressaltando
a importância da preservação da carpintaria tradicional, que tem nas sambladuras um elemento
chave de sua característica construtiva “O conhecimento técnico do corte e do entalhe que detinham os colonizadores portugueses juntou-se à sabedoria dos indígenas quanto às características das madeiras nativas, criando uma cultura bastante específica.” (Gonzaga, 2006, p.11).
A carpintaria tem no século XVII e XVIII, no Brasil, papel preponderante na construção civil, sendo técnica construtiva amplamente utilizada, sobretudo pela abundância de madeiras e por ser uma técnica relativamente fácil de ser aprendida e transmitida, dando origem a artífices da madeira, que
transmitiam conhecimento de geração para geração.
Apesar de técnica popular e de uso extensivo, há grande dificuldades em encontrar bibliografias que
apresentem técnicas construtivas de telhados no Brasil anteriores ao período Imperial. Talvez o
registro mais importante dessa técnica construtiva seja o livro de Santos (1951) em que o autor
apresenta detalhadamente com descrições e desenhos as estruturas de madeira de telhados de diversas igrejas de Ouro preto do período Colonial.
No século XIX já encontramos publicações de manuais em que se apresentam registradas as
técnicas construtivas de carpintaria tradicional empregadas na construção de telhados em Portugal e
no Brasil. Os livros do engenheiro João Emilio dos Santos Segurado apresentam o registro de
detalhes executivos de vários elementos construtivos. Um livro especial: “Trabalhos de Carpintaria Civil” apresenta detalhes de execução e elementos de madeira, sobretudo os de estruturas de telhados coloniais. Dentre as diversas informações apresentadas como dimensões e angulações do madeiramento, tipologias de tesouras, destacam-se os detalhamentos dos encaixes estruturais entre as peças de madeira dos telhados, denominadas sambladuras.
A sambladura na carpintaria é a técnica de recorte ou entalhes na madeira para junção ou encaixe de duas ou mais peças. Podem ser simples ou extremamente intrincadas e complexas. Essas
sambladuras tem em sua engenhosidade técnica para solucionar encaixes estruturais na madeira um grande valor arquitetônico e revelam o saber-fazer do mestre carpinteiro que a executou: demonstrando suas habilidades e inteligência na resolução desses nós estruturais, muitas vezes através de soluções únicas e em sua quase totalidade criadas em canteiro.

Dado esse contexto, presume-se que o ofício de mestre-carpinteiro estabeleceu-se historicamente
não somente envolvendo cortar, desdobrar e talhar a madeira para a construção, mas também
desenvolver soluções técnicas capazes estruturar e garantir a durabilidade da construção. Mais que um fazer técnico, a carpintaria tradicional envolve um fazer intelectual, um engenho na concepção de soluções apropriadas a cada situação diferente para a eficiência dos sistemas estruturais e construtivos, como observa Fígoli e Gadelha (2012) ao descrever o relato do mestre-carpinteiro José
Geraldo Rosa sobre seu ofício:
Segundo ele (José Geraldo Rosa), o resultado dos trabalhos em carpintaria não se diferencia de um profissional para outro, mas as técnicas usadas pelos carpinteiros são diferenciadas, e implicam em bons resultados ou não.
“Ninguém fica a olhar os detalhes. Depois de coberto, tudo é telhado, está tudo bonitinho. Agora, os detalhes de execução do trabalho, a segurança, a durabilidade é que vem depois. Então, frechais encaixados, tesouras encaixadas, cachorros encaixados, espigões, tudo encaixadinho na cumeeira, nos frechais, isso é que é o espírito de durabilidade do telhado. E
muitas vezes, isso não acontece, porque muitos carpinteiros chegam com uma peça na outra e bate prego. E amanhã, o telhado trabalha muito, aí começa: abre num canto um pouquinho, puxa no outro. Às vezes a carga de
um lado tá mais do que no outro, aí, aquele troço vai desequilibrando e o
telhado começa aí: selando, abrindo, empurrando parede (...)” (Fígoli e Gadelha, 2012, p.120).
Marchand (2006) reforça esse conceito de um fazer intelectual do mestre-artífice ao ressaltar no
objeto construído o valor não somente do ‘produto’ mas, sobretudo do ‘processo’ de produção desse produto, que é parte fundamental na construção do patrimônio é constituído pela expertise, pelas qualificações e conhecimento das pessoas – fruto das relações sociais e transmissão de tradições e conhecimentos. Mais que a técnica envolve o entendimento de todo o contexto produtivo do objeto.

PRODUÇÃO ARTESANAL DA CARPINTARIA

A partir do entendimento da carpintaria tradicional e das questões intrínsecas a sua prática, é importante, portanto pontuar a produção artesanal da carpintaria. Essa produção corresponde à
produção de edificações do Brasil Colônia. A partir do primeiro século XVII, tornam-se cada vez mais numerosas as construções de madeira, em pau-a-pique, inclusive casas particulares, feitas
artesanalmente, sem nenhum plano formal, às vezes pelo próprio morador ou seus vizinhos e amigos.
Quanto às edificações não militares ou religiosas no período colonial a atividade construtiva consistiu principalmente na execução de edificações residenciais, nas propriedades rurais e nas cidades, as
quais se caracterizavam pela uniformidade de plantas e técnicas construtivas.
Castritota (2012) ressalta a mudança no entendimento do patrimônio não como um produto, mas como um processo, uma práxis que agrega os objetos, artefatos e espaços culturais que lhes são inerentes.
“a importância que têm os processos de criação e manutenção do conhecimento sobre o seu produto (a festa, a dança, a peça de cerâmica,
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação
Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro por exemplo). Ou seja, procuram enfatizar que interessa mais como patrimônio o conhecimento, o processo de criação e o modelo, do que o
resultado, embora este seja sua expressão indubitavelmente material”.
(MINC/IPHAN, 2003, p. 17).
Nesse conceito ampliado que se situa a carpintaria artesanal, que carrega consigo as práticas, o
saber-fazer de técnicas construtivas tradicionais, importante patrimônio imaterial a ser preservado para assegurar a conservação do patrimônio cultural construído. O domínio dos materiais e sistemas construtivos antigos garante subsídios para o restauro, manutenção de edificações antigas
e permitem difundir as práticas construtivas vernáculas, salvaguardando mais que simplesmente o objeto construído, mas a práxis, o arte-fazer, que envolve a produção desse objeto.
Mais que um objeto o edifício é produto de um processo, processo no sentido de um conhecimento
processual e de transmissão desse conhecimento. Marchand (2006) demonstra o papel dos
construtores tradicionais na produção do ambiente construído, na significação desse espaço, nas
relações sociais e no sentido de segurança que eles dão ao espaço. Mais que agentes da técnica
esses construtores são agentes sociais do espaço.
Essas práticas e processos não são tangíveis, mensuráveis, mas são uma ‘experiência sensível’,
repassáveis, constituindo um processo dinâmico de regeneração e reprodução do processo, gerando
uma tradição carregada de valores simbólicos e que sobrevive através do tempo.
Um fator relevante a ser considerado na carpintaria artesanal é a inexistência do projeto ou de um
profissional do projeto na concepção e execução das obras durante esses períodos. Isso eleva o trabalho do carpinteiro para além do trabalho manual para um trabalho intelectual, ficando delegado ao mestre-carpinteiro o papel de conceber e executar as sambladuras, baseado no empirismo, na expertise e na experimentação. O mestre-carpinteiro propunha soluções de encaixes diversos e criativos para solucionar as demandas de estruturação das coberturas. Essas soluções encontram-se
presente até hoje, preservadas em coberturas dos séculos XVII e XVIII, conferindo a elas qualidades técnicas executivas e dota de um valor cultural preponderante a pratica técnico-criativa desses
artífices e mestres da carpintaria, constituindo sua práxis como um arte-fazer, uma pratica vernácula
dotada de uma qualidade artística, mais que um saber-fazer é um exercício intelectual, dotado de
valor artístico do ofício.
Nesse aspecto Carter e Cromley (2005) contribuem ao entendimento da importância do vernáculo o definindo como o estudo das ações humanas e comportamentos que se manifestam na arquitetura
comum, salientando que esse entendimento permite conhecer e explicar as ideias valores e crenças, a cultura que permeia esse objeto.
A carpintaria artesanal é historicamente estabelecida, portanto, como uma práxis autônoma, no sentido de autonomia abordada por Kant (1922) onde o mestre-carpinteiro é dotado tanto do direito
quanto da capacidade de dar a si mesmo a própria norma (Kapp, 2004, p.97), uma vez que sua prática é fundamentada nos seus processos pessoais de decisão construtiva, onde sua experiência,
conhecimentos e engenhosidade são seus esteios na execução das obras, em um contexto onde as
formalidades projetuais, como o desenho, o projetista não existe, cabendo ao próprio artífice o papel de executor e a concepção intelectual da estrutura.
Preservar o ofício da carpintaria tradicional, em sua essência histórica, não é preservar somente um fazer técnico, o conhecimento da madeira, dos encaixes e de sua trabalhabilidade, mas preservar o
fazer intelectual associado a essa prática, preservar a autonomia historicamente ali presente. A
transmissão e aprendizagem desse conhecimento construtivo tem um papel fundamental e
incalculável para se pensar nas questões que envolvem a conservação e preservação do ofício da carpintaria tradicional.

A PRODUÇÃO INDUSTRIAL DA CARPINTARIA

No oposto da autonomia encontra-se a heteronomia, que é um conceito criado por Kant para
denominar a sujeição do individuo à vontade de terceiros ou de uma coletividade. Opõe-se assim ao
conceito de autonomia. Dentro do contexto de produção de objetos que está sendo abordado, pode-
se associar a heteronomia a existência de uma ferramenta externa ao mestre-canteiro que regule a ação deste, dissociando atividade intelectual e fazer manual ou nas palavras do Sr. José Geraldo “a mão faz aquilo que a cabeça manda” (Fígoli e Gadelha, 2012 p.122).
Conhecimentos com base científica começaram a ser introduzidos na construção de edificações nas
décadas de 1920 e 1930, passando a serem incorporados tanto no projeto como na produção de
materiais e componentes. O suporte tecnológico para este estágio de desenvolvimento foi prestado pelo “Laboratório de Ensaios de Materiais (LEM), ligado à Escola Politécnica de São Paulo, pelo Instituto Nacional de Tecnologia (INT), no Rio de Janeiro e também pela Associação Brasileira deNormas Técnicas (ABNT).
A especialização das profissões e o estabelecimento de hierarquias e qualificações técnicas criaram
profissionais habilitados a projetarem e conduzirem a execução dessas estruturas de madeira outrora idealizadas e resolvidas em canteiro. Arquitetos e engenheiro apoderaram-se do fazer intelectual referente às coberturas e estruturas de madeira. Como parte do processo de regulamentação e padronização de requisitos de desempenho foram estabelecidas normas técnicas.
Uma norma técnica serve para definir regras mínimas de segurança e qualidade para se produzir algo
ou realizar um determinado serviço. Uma norma é elaborada por profissionais que discutem sobre todos os itens que a compõe, realizando ensaios experimentações e modelos para atestar a eficiência
dos seus requisitos. A primeira norma técnica referente a estruturas de madeira data de 1982, denominada NB-11. Em 1997 ela foi reformulada, alterando todo seu conteúdo e a metodologia de dimensionamento e detalhamento das estruturas de madeiras, gerando a NBR 7190/97. Logsdon (1997) sinaliza as melhorias e evolução apresentada pela norma enfatizando os ganhos obtidos no novo sistema de dimensionamento das estruturas de madeira.
A partir da NB-11 ocorre a normalização dos projetos de estruturas de madeira que prescreve critérios para o dimensionamento de sambladuras. Com a adoção desses critérios configuram-se dois
campos distintos que determinam práxis distintas: uma práxis que denominaremos autônoma, que é
baseada no saber-fazer e que carrega na sua gênese as questões abordadas da carpintaria
tradicional, e outra práxis, que chamaremos de normalizada, que é baseada na execução dos
projetos realizados sob a luz da norma técnica e que apesar de carregar ainda o fazer técnico não
permite a expressão criativa do artífice que a executa.
Por essa época houve também a introdução de novos equipamentos e ferramentas que visavam o aumento da produtividade do setor. A incorporação da ciência ao processo de produção deslocou o
“domínio do saber”, que era do trabalhador, para a engenharia e arquitetura. No entanto, esse
deslocamento não atingiu o modo de executar as atividades no canteiro de obras, que continuou sob o controle dos operários.
A prática normalizada da carpintaria no decorrer de sua evolução passa a incorporar novos elementos de ligação entre as peças, novos materiais e novas madeiras, advindos da própria evolução e industrialização da construção civil. Ligações por entalhe passam a serem substituídas por ligações
metálicas, pinos, colas e outras tecnologias, a madeira antes coletada e desdobrada, passa a ser
fornecida aparelhada, oriunda de espécies cultivadas em manejo controlado. O desenho, projeto
detalhado, passa a protagonizar o canteiro e os nós estruturais e ligações deixam de ser pensados e
resolvidos na obra e passam a ser resolvido e solucionado em etapas anteriores, através de
desenhos técnicos. Não mais a experimentação e o engenho estão presente nas soluções de
ligações, mas o atendimento a metodologias de projeto e dimensionamento, o que de certa forma reduz a variabilidade de soluções, padronizando e seriando as possibilidades de resolução desses nós. Mesmo quando inventivas essas ligações são projetadas fora do canteiro, a partir de conhecimentos que não são exatamente o ‘saber-fazer’ do mestre-carpinteiro.
É possível subsumir uma nova perspectiva construtiva advinda desse contexto: a seriação da
produção em canteiro, de tal forma que o carpinteiro deixou de ser um executor e passou a ser um
montador. A introdução do projeto e a lógica industrial substitui o carpinteiro que extraia a madeira, a beneficiava e construía, pelo carpinteiro que interpreta a linguagem do projeto, dialoga com
fornecedores e monta a cobertura a partir dos materiais recebidos já pré-dimensionados e
beneficiados.
A formação desse novo perfil de mestre-carpinteiro impacta diretamente nas questões que
concernem à preservação e continuidade do arte-fazer tradicional. Fígoli e Gadelha (2012) sinalizam que o ofício da carpintaria é transmitido ou hereditariamente ou através do ensino de aprendizes,
através do acompanhamento e auxílio do mestre-artificie no seu trabalho. Dessa forma novos
carpinteiros são formados já inseridos e treinados dentro dessa práxis normalizada, onde a
inventividade e autonomia do artificie dão lugar ao tecnicismo e montagem e soluções pré-
cocarpintaria.
Outro ponto importante a levantar é que apesar das práxis distintas (autônoma e normalizada), é
importante perceber que seus atores, nos dias de hoje, são os mesmos: os mestres-carpinteiros que hora trabalham no canteiro da indústria da construção civil, são os que em outros momentos
produzem a práxis autônoma, dissociada de projeto e normas. A prática autônoma da carpintaria hoje em dia acontece geralmente em processos de autoconstrução ou autogestão, onde a figura do
arquiteto ou engenheiro não existe e dá lugar ao trabalho livre de construtores, carpinteiros e
moradores, numa dinâmica colaborativa e saberes livres que se apropriam das condicionantes
existentes, como materiais disponíveis, para produção das construções. A autora Marques (2010) aponta que na autoconstrução as restrições econômicas conduzem os construtores a uma regra do
jogo que é sempre no sentido de se fazer o que puder com aquilo que se tem nas mãos, ou seja, um
conjunto de ferramentas heterogêneo e finito, a partir do que Levi Strauss (1989) nomeou
‘”pensamento selvagem” onde os processos criativos e tecnológicos são compelidos pelos materiais
disponíveis.
É relevante observar que como Carter e Cromley (2005) apontam, esses artificies incorporam em
suas práxis autônomas as tecnologias industrializadas utilizadas nos canteiros de obras em que trabalham, mas de uma forma diferente, utilizando esses materiais como matéria para soluções construtivas associadas aos materiais disponíveis. Dessa forma a carpintaria tradicional aos poucos foi incorporando novas ligações, madeiras e formas de construir. O resultado é que ainda que a carpintaria como ofício, tenha resistido ao tempo e chegado aos dias de hoje com diversos profissionais atuando, as técnicas de sambladura foram sendo substituídas por outros tipos de ligações e novas formas de produção das estruturas de madeira.
Tinoco (2013) alerta que apesar de milenares e sua larga presença nas edificações antigas poucos
profissionais hoje dominam a técnica de sambladura. Isso justifica esforços como o empreendido pelo Iphan no intuito de registrar os mestres e as técnicas tradicionais de carpintaria na publicação Ofícios
(2012), e as recorrentes oficinas de ensino de carpintaria. Diversas ações de educação patrimonial,
no sentido de ensino de técnicas construtivas tradicionais, têm sido empreendidas no intuito de
salvaguardar esse saber fazer tradicional, uma vez que a carpintaria apesar de ser técnica presente e difundida nos dias atuais teve suas características alteradas e o que temos hoje é um carpinteiro com
conhecimentos dicotômicos em relação aos carpinteiros tradicionais. Carecem, portanto do ensino e da aprendizagem das técnicas tradicionais de carpintarias que inclui, sobretudo, as sambladuras.

CONCLUSÃO

Ao analisar, portanto as questões que perpassam a o arte-fazer autônomo da carpintaria tradicional, encontramos diversos entraves para a manutenção e transmissão desse ofício. A mudança do
paradigma construtivo, a inserção do desenho no canteiro a utilização de novos materiais e novos encaixes contribuíram para alterações profundas na práxis da carpintaria e no perfil do mestre-
carpinteiro. Uma das alterações fundamentais foi à mudança do perfil do carpinteiro construtor para o de carpinteiro montador, alterando assim toda a lógica construtiva e de pensamento da carpintaria tradicional, que sob essa nova ótica perdeu suas características principais de autonomia e de
engenhosidade.
A introdução da norma técnica de estruturas de madeira e sua posterior revisão criaram critérios
estanques para o desenvolvimento o desenvolvimento de projetos. Esses critérios deslocaram o
‘saber-fazer’ do mestre carpinteiro e suas experimentações em canteiro para o território hermético do projeto e dos roteiros de dimensionamento, que produzem via-de-regra soluções estandardizadas para estruturas e ligações de madeira. Aliado a isso de uma forma geral as ligações produzidas autonomamente pelos mestres carpinteiros apresentam inúmeras inadequações em relação à norma, porém a falta de adequação, não levou as estruturas antigas ao colapso, podendo-se concluir também que, a norma NBR 7190/97 pode ser considerada uma norma conservadora, em relação aos
coeficientes de segurança, como aponta Albuquerque (1997), que estudou diversas ligações
artesanais a partir dos parâmetros introduzidos pela norma técnica.
Essas relações conflitantes entre prática tradicional da carpintaria e a normalização demonstram que
é preciso aliar esse arte-fazer próprio do ofício a norma técnica e aos projetos desenvolvidos sob
seus critérios. A preservação desse ofício perpassa pelo entendimento da importância da prática de
carpintaria historicamente estabelecida: da figura do carpinteiro dotado da capacidade de decisões técnicas e soluções construtivas das sambladuras, um arte-fazer do próprio mestre-carpinteiro e, sobretudo a adequação das práticas demandadas pela norma que se mostra contraproducente à
práxis tradicional de carpintaria.


Referências Bibliográficas

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4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação
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VARGAS, Milton. Para uma filosofia da tecnologia. São Paulo: Alfa - Omega, 1994.

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sábado, 17 de junho de 2017

O modernismo e seus contraditórios símbolos:



“O apartamento de todo jovem arquiteto, o quarto de todo estudante de arquitetura, era aquela caixa e aquele santuário. E no santuário havia sempre o mesmo ícone. Ainda o vejo. A sala de estar era um espaçozinho mesquinho nos fundos de um prédio sem elevador. O sofá era um colchão sobre uma porta lisa sustentada por tijolos e coberto com burel de frade. Havia mais burel de frade à guisa de cortina e no assoalho um tapete de sisal que deixava marcas cordiformes nas solas dos pés da pessoa pela manhã. O lugar era iluminado por lâmpadas térmicas com refletores de alumínio em concha em que se substituíam as lâmpadas térmicas por lâmpadas comuns. A uma ponta do tapete havia... a CADEIRA BARCELONA. Mies a desenhara para o pavilhão alemão na Feira de Barcelona de 1929. O ideal platônico da cadeira, puro aço inoxidável e couro de habitação operária, a peça mais perfeita em matéria de desenho de móveis do século XX. A cadeira de Barcelona alcançava o preço atordoante de 550 dólares, e isso no atacado. Quando se contemplava aquele objeto sagrado no tapete de sisal, sabia-se que se estava em uma casa onde um arquiteto novato e a jovem esposa tinham sacrificado tudo para trazer para casa o símbolo da missão divina. Quinhentos e cinqüenta dólares! Ela chegara a abrir mão do serviço de fraldas e estava lavando as fraldas no tanque. A coisa ganhou tais proporções que se eu visse uma cadeira Barcelona, onde quer que fosse, imediatamente – no clássico estímulo-resposta – sentia cheiro de fraldas desfraldadas ao vento.
Mas se já tinham a cadeira, por que a mulher ainda estava lavando as fraldas a mão? Porque uma cadeira era apenas metade do caminho para a Meca. Mies sempre as usava aos pares. O estado de graça, a Cidade Radiosa, eram duas cadeiras Barcelona, uma de cada lado do tapete de sisal, diante do sofá de porta, sob a luz dos refletores térmicos.
Se um rapaz sofresse e se sacrificasse dessa forma, cortasse as gorduras de sua vida mental e revelasse o brilho Mazda no ápice de sua alma – quem no mundo terreno exterior, poderia detê-lo?
Foi por volta dessa época, fins da década de quarenta e início da de cinqüenta , que O Cliente nos Estados Unidos começou a perceber que algo muito estranho ocorrera com os arquitetos.” 

(Da Bauhaus ao nosso caos, de Tom Wolfe, pág. 48)



Comentários...

Como sempre o ser humano é contraditório ao abraçar caríssimos símbolos da humildade pseudo operária pseudo anti-burguesia. (Gargalhadas sinceras e extravagantes, hehehe).

Hoje vivemos uma realidade complexa onde ter dinheiro e fazer parte de uma classe social elevada não é mais alvo de inveja, pode ser de cobiça, mas de inveja não é, o que temos é um total sentimento de ódio para com os PENSADORES, sejam de que classe for. Os intelectuais de merda passaram a incomodar muito, todas as classes, como se o sistema corresse perigo eminente. A intolerância voltou a reinar em 360 graus.

Porém creio que as coisas sempre foram assim: Temos o hábito de louvar os pensadores do passado, os já póstumos que supostamente não apresentam mais perigo, mas pensadores atuais continuam sendo calos nos sapatos, principalmente os anônimos, os que estão entre o povo, pertencentes ao mesmo.

Ainda é proibido pensar diferente da maioria e pecado mortal expor tais pensamentos.

Outrora a cadeira Barcelona foi um caro símbolo de um movimento filosófico libertário e contraditoriamente doutrinador de massas, seguindo os moldes do nível moral convencional da Teoria do Kohlberg (psicologia, pesquise), onde todos de determinado grupo passam a pensar como se fossem um só, seguindo o líder sem questionar para poder continuar a fazer parte do grupo. A cadeira Barcelona passa a ser o símbolo de pertencimento a este grupo de arquitetos de espírito elevado, dos MODERNISTAS e sua obsessão pelo branco, transparências e materiais operários honestos não burgueses. Hehehe Defensores da industrialização, padronização de processos e uma forma linear e burra de pensamento sobre tudo e todos a meu ver. Desde então o arco-íris passou a ser preto, branco, cinza e berge. Sim! O cliente tinha o poder total de escolher entre estas cores de acordo com o seu bom gosto, claro, tremenda liberdade, se me permitem a ironia.
Obviamente isto é uma metáfora, antes fosse uma problemática apenas de escolha de cores dentro de um leque reduzido de opções...

Mas todos aguentaram firmes o modernismo, e continuam aguentando.

Pensadores são perseguidos e boicotados até por outros pensadores... Seres solitários de fato! (Pensadores também adoram bancar as vítimas da sociedade, oras, isso é modinha e nóis também mete o loko, claro, obvio, hehehe).

Santo André, 17 de Junho de 2017.



Luiz Mariano
(Autodidata apaixonado por marcenaria, design, arquitetura, arte, psicanálise, psicologia, filosofia, sociologia, ..., e principalmente por mulheres bonitas, claro, hehehe)

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terça-feira, 13 de junho de 2017

Reflexão sobre Direitos Autorais:

























Poltrona Mole de Sérgio Rodrigues.

Propriedade intelectual sob suspeita...

Ser copiado é o auge do sucesso!

Foi com esta frase que um debate interessante surgiu no grupo Marcenaria BRASIL. O membro Victor A. Ferraz postou uma queixa muito comum a quem se propõe a criar produtos e serviços inovadores: A CÓPIA!!!  E eu fui obrigado a rebater com uma visão menos pessimista sobre este tema que infelizmente funciona como agente desmotivador e paralisante na mente dos criadores. Lembrei até de um vídeo que vi de uma entrevista com o Sérgio Rodrigues, o famoso e já falecido designer criador da igualmente famosa Poltrona Mole. Neste vídeo o Sérgio demonstra muito rancor dos copiadores, chega a citar um chinês que em um evento o abordou e o agradeceu dizendo que pagou a faculdade de suas filhas copiando a Poltrona Mole. O Sérgio também revelou que demorou mais de 10 anos para a poltrona dar retorno, o cara ganhou o prêmio internacional com ela e achou que tinha acertado na loto, ilusão, doce ilusão a meu ver. Com certeza este rancor o prejudicou muito, mais até que a ação inoportuna dos copiadores.


Eu defendo que tais produtos autorais, as estrelinhas, são forte ferramenta de marketing apenas, uma forma de fazer seu nome no mercado e agregar valor aos produtos e serviços genuinamente modernistas, o famoso “arroz c/ feijão", produtos e serviços simples e funcionais que atendem às necessidades básicas e imediatas dos consumidores. Um exemplo seria ter uma linha de peças de cunho artístico autoral em paralelo aos móveis sob medida no caso de marcenarias. Ou executar criações autorais de designers em troca de divulgação conjunta. Já no caso de designers e arquitetos analiso que a jogada é continuar a atender as demandas de projetos e demais serviços atrelados comumente. Outra questão que a Arte da Guerra nos ensina: Quando você não consegue combater determinada força, use-a ao seu favor... Faça seu oponente acreditar que seu foco seja determinada peça/serviço estrelinha e o induza a copiar, situação já previsível por sinal, então incentive-o, enquanto ele se mata pra faturar sobre tal produção inovadora, você ganha ainda mais nome no mercado e fatura sobre um produto/serviço simples e objetivo por conseqüência.

Crie produtos, venda tais produtos, venda o manual de como copiar tais produtos, venda outros produtos atrelados, venda seu tempo em palestras falando de tais produtos, publique livros... Não brigue contra o sistema e suas falhas... Apenas quando tal briga seja jogada de marketing.

Nunca se esqueça: Oportunidades possuem prazo de validade!
Continue a criar, jamais se acomode com o sucesso de um único produto/serviço.

Outra questão que acho bastante pertinente é: Principalmente se tratando de marceneiros e hobbystas que copiam peças assinadas como um desafio a ser vencido, ou uma encomenda pontual ou poucas peças vendidas regionalmente vale à pena se preocupar? Tudo bem que podem ser muitos, mas é economicamente viável se preocupar, e pior, tentar processar algum deles se valendo dos seus direitos autorais? Uma coisa é um fabricante que trabalha com produção em série em larga escala, outra coisa é o sujeito comum e seu uso doméstico, este até devemos agradar de alguma forma usando-os como ferramenta de marketing, são "café c/ leite" a meu ver. hehehe

Quem está na vanguarda, os criadores, os líderes de mercado, lançam novidades no mercado tão rápido que os concorrentes copistas se matam tentando acompanhar... Enquanto eles estão ajustando a linha de produção para copiar o produto da moda, eis que este produto já não é mais moda, outro produto já foi lançado e a saída, e por conseqüência a lucratividade, desta cópia diminui drasticamente.

O designer de produto, Flávio Guimarães, membro do grupo, postou no debate: Num mercado ideal onde há liberdade para criar e comercializar sem que o governo faça uma amputação na metade do seu lucro, quem cria tem que continuar criando, senão a concorrência cria outra coisa melhor e a roda continua girando com incentivos à inovação.
Copiadores ficam com as migalhas deixadas para trás por quem está lá na frente criando algo.

E eu respondi: Isso num mercado ideal... Já no real tudo isso citado é apenas parte de algo mais complexo, dinâmico... Copiadores são parte importante do processo. Muitas vezes se tornam inovadores incrementais melhorando mil vezes o que os inovadores revolucionários fizeram. (Conceitos postados pelo professor de arquitetura, Cezar Augusto, em outro debate).

O Flávio finalizou: A entrada no mercado dificilmente não se dá pela cópia!!! Até o momento que um copiador percebe que se mudar algo aqui ou ali, o produto pode ficar melhor que o original copiado... Aí surge um novo criador em potencial do que foi copiado.
Uma das matérias do curso de design de produto era REprojeto. A gente tinha que desmontar um produto parafuso por parafuso, catalogar todas as peças e apresentar um relatório propondo melhorias.

Sim meus queridos, o mundo seria um lugar mais atrasado do que já é se a leis de diretos autorais realmente funcionassem a nível global. Imaginem o descobridor da cura pro câncer ter o direito de cobrar o que bem entende por sua descoberta pela eternidade? E ainda por cima ter o direito de proibir outros pesquisadores de descobrir outras curas para o mesmo mal? Pode até ser morais certas leis, pois seguem convenções e o censo comum difundido pela sociedade e o direito à propriedade privada material e intelectual, base do sistema capitalista, porém a ética é questionável, a justiça sob suspeita... Coletivo versus indivíduo. Fora que a maioria dos inventores/criadores não possuem poder econômico, capacidade, conhecimento e muitas vezes nem vontade de explorar comercialmente suas invenções/criações na produção em massa, e de forma eficiente e eficaz. Sem contar que muitos se apegam sentimentalmente às suas crias e não querem dividir com o mundo por ‘N’ motivos.

O que é certo? O que é errado?

Uma pessoa inventiva desmotivada, invenções inovadoras, porém caras demais para a maioria da população, tributos fiscais castrantes, burocracia em todas as instâncias, direitos autorais nas mãos de ogoistas.... É uma disputada na realidade de quem perde mais, a sociedade ou o indivíduo contido na mesma sociedade.

E para não finalizar: Criar uma MARCA é mais importante do que criar, copiar ou comprar bons produtos para revender, pois os adoradores de uma marca automaticamente gostam e consomem quase tudo o que esta marca comercializa. Fato!
Sim! O consumidor não é dono do seu nariz, ele é manipulável ou no mínimo influenciável, as coisas são assim.

Fato fractal áureo!


















Santo André, 12 de Junho de 2017.

Luiz Mariano 

AUTODIDATA apaixonado por marcenaria, design, arquitetura, arte, debate, filosofia, etc...

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segunda-feira, 12 de junho de 2017

Inveja: Aprendendo a lidar e liderar pessoas...








Inveja

Aprendendo a liderar...

Para começar devemos nos ater à diferença entre inveja e cobiça, inveja está mais voltada para aquilo que a pessoa é (sua personalidade, coragem, virtudes, ética, moral, etc.), já a cobiça está mais voltada ao que a pessoa possui (bens, carros, mulheres, poder, etc.).

No inicio de nossas vidas a ingenuidade nos protegia deste mal, pois na infância não percebíamos tais sutilezas berrantes bem na ponta de nosso nariz. E mesmo quando percebíamos, eis que se tornava muitas vezes uma rivalidade sadia entre amigos. Fora que é mais comum a cobiça ingênua do que a inveja maliciosa entre crianças e adolescentes. Esforçávamos ao máximo para fazer a pipa maior, com a rabiola maior, que nosso amigo para que este ficasse com “inveja”, quando não conseguíamos, eis que era nós que o “invejávamos”, mas jamais a amizade era abalada por tal inveja (cobiça), na verdade isso fazia parte da amizade, era sadio, era normal, era banal. Ríamos de tais situações, provocávamos uns aos outros. Tempo bão este de mulekagem travessa. Hehehe

Mas o tempo passa e nos tornamos adultos chatos, melancólicos, intolerantes, rabugentos... A boa malandragem some e a malícia negativa toma conta, passamos a sacar as mensagens subliminares. Aí meu amigo, o CAOS toma conta de nossas mentes, nos tornamos infelizes amargos que passam a enxergar e supervalorizar somente as falhas das pessoas em nossa volta. Ficamos cegos, pois não percebemos mais nossas próprias falhas, nos transformamos em obsessores sedentos em julgar e punir tudo e todos, pois não paramos apenas nas pessoas, passamos a personificar e mistificar produtos, serviços, empresas, instituições, clima, tempo...TUDO!!! Pois loucura pouca é bobagem! Achamos que tudo conspira contra nós, que tudo nos inveja, que somos o centro do universo. Hehehe

Qual a solução?
Não dar importância!
Volte a ser ingênuo!
Perceba, mas não dê importância, para seu próprio bem, para que isso não se torne uma neurose, uma mania de perseguição ou coisa pior.

A inveja é inerente ao ser humano, faz parte da sua psique, como vários outros transtornos mentais que em pequenas doses compõem nossa personalidade sem maiores danos à nossa vida, como: preocupação, paixão, ódio, rancor, tristeza, melancolia, vícios, ansiedade, etc... Acreditem, tudo isso possui sua função, caso contrário não existiriam. Mas devemos ter muito cuidado com invejosos, pois quando estes possuem poder real sobre nossas vidas podemos nos meter numa situação insuportável e contínua, num circulo destrutivo para ambas as partes. Esse invejoso precisa ser desarmado o quanto antes de alguma forma.

E para quem exerce alguma função de liderança ou de destaque tudo passa a ser maximizado e o cuidado deve ser redobrado. Líderes sempre serão o alvo preferido dos invejosos, pois todos querem ser como eles e cobiçam seu lugar para piorar.
Por outra ótica tome cuidado, também, para não se tornar um invejoso crônico ou um invejado crônico, pois tais estados psíquicos são lastimáveis, negativos ao extremo, destrutivos. Procure urgentemente ajuda psicológica nestes casos. O invejoso crônico é uma pessoa que não se controla, que é capaz até de matar o invejado com a plena certeza de estar fazendo o certo. Já o invejado crônico muitas vezes são pessoas frustradas com as conseqüências das escolhas erradas que fez na vida, e para sobreviver passam a culpar os supostos invejosos que o rodeiam, vitimas da sociedade. E em casos não raros o invejoso é um invejado em potencial, pelo menos na sua cabeça insana.

A inveja prejudica o invejado, porém prejudica mil vezes mais o próprio invejoso. A pessoa que convive com tal sentimento ruim possui na verdade um “demônio devorador” que se instalou em sua mente, em sua alma.

Quando uma pessoa boa está passando por dificuldades muitos invejosos aparecem para supostamente ajudar confraternizando com sua dor, mas basta esta pessoa melhorar para que a inveja volte a incomodar, uns se distanciam colocando a culpa no invejado atacando sua estima, outros tentam boicotar ardilosamente, pois a felicidade alheia os fere como navalha. Nestes casos mais complicados o melhor a fazer, para o bem do próprio invejoso, é se afastar, anular esta pessoa de nossas vidas, excluir das redes sociais e tudo mais. Cuidado com quem se aproxima de ti em momentos difíceis, cuidado para não se tornar escravo emocional desta pessoa, pois ela usará seu sentimento de gratidão para controlar sua vida, privar-lhe de sua liberdade, de sua autonomia.

Agora tirando as situações extremas de lado, podemos afirmar que a inveja além de coisa banal e cotidiana, ela só possui poder sobre nossas vidas se dermos importância demais a mesma. Temos situações onde pais têm inveja de filhos, e vice-versa, situações estas tão banais quanto complicadas, uma vez identificadas devem ser toleradas, desprezadas, desconsideradas, pois tentar conscientizar, tentar mudar a pessoa não funciona, pois esta jamais vai admitir possuir tal sentimento e de que este possa estar fora de controle. Quanto mais atenção der, pior fica. Fato!

Manter o bom senso é a chave!

Desarme o invejoso e não dê mais importância ao mesmo, deixe-o de lado, tolere, esqueça, toque sua vida, dê atenção para quem mereça sua atenção, cuide de sua família, cuide de você, seja feliz.

Que a sabedoria de Deus nos contamine, amém!

Luiz Mariano (Autodidata apaixonado por marcenaria, design, arquitetura, arte, filosofia, psicanálise, ..., e mulheres bonitas, hehehe).

Santo André, 11 de Junho de 2017.

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