PARTE I
A pedido do Luiz Mariano vou tentar descrever o processo
relativo à busca e ao entendimento sobre o que o cliente deseja, na visão da
marcenaria.
Primeiramente, já afirmo que não consigo ver o “briefing”
(na exata concepção da palavra) como uma ferramenta de marcenaria. Vejo sim, no
lugar deste, algo semelhante ao programa de necessidades – que é bem diferente.
O briefing é uma ferramenta bastante complexa que não tem um
momento para começar e, tampouco, para terminar. É um processo em andamento,
evolução e adaptação constantes. Não é algo que se faz em uma ou duas reuniões
com o cliente.
Para esta minha abordagem devo, antes de tudo, fazer uma
distinção entre o Design de Produtos e a Marcenaria (por serem os mais
próximos).
Quando o designer é chamado para criar um novo produto a sua
análise (briefing) sobre o problema
em busca das possíveis soluções, vão
muito além do “querer” de um determinado cliente. Esta análise passa, entre
outros pontos, pela análise de mercado, pesquisa de materiais, capacidade de
produção (seriação) e distribuição, concorrência, diferenciação, prototipagem,
avaliação, ajustes, etc. Processos que não acontecem na Marcenaria.
Já sei, alguns já estão pensando: então os designers de
interiores também não utilizam o briefing!
ERRADO!
Utilizam sim e muito, apesar desta ferramenta ser ensinada
de forma errada na academia quando colocam o programa de necessidades como se
fosse o brieffing. A diferença entre o trabalho sobre um determinado espaço
feito pelo Design de Interiores daquele desenvolvido pela Marcenaria é bem
diferente. Enquanto o Design de Interiores se preocupa com diversas variáveis
que comporão o espaço no total (mobiliário sob medida e pronto, uso e usuários,
acessibilidade e ergonomia plenas, luz, texturas,
conforto ambiental, “stimmung”, problemas,
estética, etc), a Marcenaria lida com aspectos específicos de mobiliários sob
medida para solucionar determinado
problema.
O mais correto, no meu ponto de vista, é a Marcenaria adotar
a abordagem mais próxima do programa de necessidades (lembrando que este é
apenas uma etapa do briefing). Explico:
Digamos que você, marceneiro(a), foi chamado por um cliente
para fazer o closet. O primeiro ponto a levantar é o espaço disponível. Aí
pode-se conversar com o cliente enquanto analisa este espaço em busca de
informações estético-funcionais. Porém, o problema maior não é este e sim “o
que e quanto” terei que acomodar nos armários. Pense num casal de advogados,
como exemplo. Ele tem diversos ternos, sapatos, camisas, gravatas, outras
roupas, cabans e sobretudos, etc. ela tem diversos tailleurs (terninhos),
incontáveis sapatos (4 pares de botas cano alto-duro)e bolsas, jóias e bijoux,
vestidos longos, saias, outras roupas, etc. Aliado a isso, vale lembrar que os
closets sempre acabam servindo também para guardar outras coisas, como por
exemplo, enxoval.
E aí, quanto espaço cada um deve ter para acomodar
tranquilamente suas coisas? Quanto espaço deve ser destinado para o enxoval?
Você sabe quanto espaço (volume) essas coisas todas ocupam? Você tem ideia de
quanto espaço 5 jogos de cama king, completos, ocupam quando guardados? UM edredom queen ao menos?
Não entendeu ainda? Passemos então para a cozinha da vovó...
Estes são sempre os ambientes mais complexos para
dimensionar. E para isso devemos saber exatamente TUDO o que será guardado ou
exposto além, é claro, do que está por ser comprado ainda. Pegando um
apartamento atual (raros dispõem de despensa), qual o volume necessário para
guardar todos os talheres e utensílios, as panelas, vasilhas, travessas,
baixelas e caçarolas, os jarros, copos, taças, xícaras, os aparelhos de jantar,
chá e café, os potes plásticos, os mantimentos e temperos, os equipamentos como
forno, fogão, micro-ondas, geladeira e exaustor/coifa, utilitários como
batedeira, liquidificador, triturador, centrífuga e cafeteira entre tantos
outros objetos e “coisas” que temos dentro de uma cozinha?
Qual o volume de um aparelho de jantar completo para 12
pessoas (incluindo os talheres, copos e taças) para que sejam guardados sem o
risco de danos às peças (por empilhamento) ou acidentes pessoais por lotação de
compartimento dos armários?
Aliado a esta análise, entra todo o conhecimento de vocês,
marceneiros(as), sobre o material mais adequado às necessidades físicas do
móvel e do modo e processo de montagem dos mesmos. O encaixe tipo escama para
uma cabeceira de cama pode não ser a melhor opção pois a mesma pode deslocar-se
bem como, existem diversos tipos de dobradiças, algumas bem específicas e
também os pistões que não devem ser utilizados apenas porque estão na moda.
Assim, fica claro que o uso do termo briefing aplicado à
Marcenaria é equivocado.
Espero, através de exemplos, ter contribuído um pouco com
este debate.
Paulo Oliveira é lighting designer e designer de ambientes, especialista em Educação Superior e em Iluminação.
Autor do blog Design:
Ações e Críticas (www.paulooliveira.wordpress.com),
co-fundador do Portal DesignBR (www.designbr.ning.com), colunista fixo da Revista Lume Arquitetura (www.lumearquitetura.com.br), docente e palestrante.
Este texto foi uma contra-reposta ao meu vídeo que fiz na total gozação, como sempre, sobre briefing na marcenaria. (Que retirei temporariamente do Youtube!)
Grupo do Facebook: Marcenaria BRASIL
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